21/08/2015
1 comentário
Rótulos: você sabe o que está comendo?
Em uma passagem rápida pelas prateleiras de qualquer supermercado, encontramos alimentos em embalagens chamativas, com rótulos coloridos, cheios de frases de efeito. Lado a lado, são dezenas de opções para um mesmo produto. E como escolher a melhor para colocar no carrinho? Os rótulos podem ser bons aliados. Muito além de uma aparência bonita, eles trazem uma série de informações importantes sobre o conteúdo, mas que dificilmente são encontradas pelos consumidores. “Muitas pessoas contam que leem as bulas dos remédios que tomam quando ficam doentes, mas não leem os rótulos dos alimentos que comem todos os dias”, provocou a nutricionista Daniela Cierro, da Personal Diet, durante a oficina Aprenda a entender os rótulos, realizada pelo Mesa Brasil em agosto no Sesc Osasco.
A jornalista Francine Lima enfatiza a importância desse conhecimento. A partir do lema “Você é o que você sabe sobre o come”, criou o canal Do campo à Mesa. Em vídeos curtos, destrincha a quantidade real de fruta em sucos de caixinha, os corantes presentes nos potinhos de iogurte, a rotulagem obrigatória dos transgênicos, entre outras questões. Buscar informações sobre o que comemos, para ela, é um meio de exercer a cidadania e guiar a escolha de uma alimentação mais saudável. “A forma como os alimentos são produzidos hoje mudou muito e já não somos os produtores da nossa própria comida. Se não somos informados sobre os modos de produção, corremos o risco de estar consumindo alimentos que foram produzidos de formas com as quais não concordamos”, afirma.
(Oficina “Entra ou não entra no carrinho”, realizada por Francine Lima no Sesc Campinas)
Mas não é à toa que a maioria das pessoas sente dificuldades em decifrar os rótulos. Muitas vezes colocados em letras miúdas e em termos técnicos, as informações se perdem em meio às imagens e apelos publicitários da embalagem. Por isso é preciso treinar o olhar e saber o que procurar. Os rótulos no Brasil são regulados pela Anvisa e algumas informações são obrigatórias:
- Ingredientes: todos os ingredientes que compõem o alimento devem estar listados, em ordem decrescente em relação à quantidade. Ou seja: o ingrediente presente em maior quantidade é o primeiro da lista. Fique alerta para alimentos cujo primeiro ingrediente da lista é açúcar ou gordura, por exemplo. Atenção também para a presença de muitos aditivos como corantes, aromatizantes, estabilizantes, conservantes etc.
- Origem: indica de onde vem o produto, quem o produz.
- Prazo de validade: em alimentos com menos de 3 meses de validade, o prazo deve exibir dia, mês e ano. Para os com validade mais longa, a validade pode conter apenas mês e ano.
- Conteúdo líquido: mostra a quantidade total do produto, descontado o peso da embalagem.
- Lote: garante a rastreabilidade do alimento.
- Informação nutricional: traz a quantidade de energia e nutrientes presentes no alimento. Confira a que se referem os termos presentes na tabela:
Fonte: Anvisa
O porcentual de valores diários (%VD) pode auxiliar a entender a quantidade ideal para consumo de cada elemento. “É fundamental que o consumo de carboidratos, proteínas e gorduras seja equilibrado. O sódio, as gorduras trans, e as gorduras saturadas devem ser consumidos em menor quantidade, enquanto as fibras, em maior quantidade”, explica a nutricionista Daniela Cierro. A Anvisa estimula a indústria a indicar a quantidade de colesterol nos alimentos – substância presente em alimentos de origem animal que deve ser consumida com moderação. A presença de outras substâncias em expressões como “fonte de vitaminas”, ou “rico ferro” é regulada pela RDC 54/2012, que dispõe o Regulamento Técnico sobre Informação Nutricional Complementar.
Decifra-me ou te devoro
Mas calcular as quantidades de nutrientes de um alimento não basta. É preciso decifrar as pegadinhas presentes nas embalagens. Por exemplo: é comum encontrar alimentos com “sabor de morango”, imagens de morangos no rótulo, mas sem nenhum morango em sua composição. “Quando o rótulo diz ‘sabor’, ele quer dizer ‘aromatizante’. Certamente não é isso que o consumidor pensa quando lê essa palavra. A falha da rotulagem nesse aspecto é não falar a língua do consumidor”, diz Francine Lima. Para ela, é necessário reformular a lógica da rotulagem, usando termos e recursos visuais de fácil interpretação pela maioria da população. É o que ela mostra no vídeo “Queremos rótulos mais criativos!”:
Atualmente novas propostas para a rotulagem nutricional estão em discussão pelo Grupo de Trabalho sobre Rotulagem Nutricional da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. O objetivo é melhorar as informações expressas nos rótulos dos alimentos, facilitando a compreensão dos consumidores. As normas devem ser apresentadas ao Mercosul, âmbito no qual a regulamentação brasileira está harmonizada. O grupo é formado por representantes da sociedade civil, organizações como o Conselho Federal de Nutrição, universidades e órgãos de defesa do consumidor.